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terça-feira, 8 de novembro de 2011

COMO CURAR AS PRÓPRIAS FERIDAS QUANDO SE ESTÁ MACHUCADO?




(...) Cedeu ao cansaço. Sentou-se timidamente, olhando ao seu redor. Não havia vozes nem sons escusos, era apenas o Ser e aquele Todo, os espelhos por toda a parte. Tremia. Era algo incontrolável, não havia domínio mais sobre seu corpo que sofria dores fortes e intensas. Não dores musculares ou de fraturas, mas dores da alma. De uma alma que estava ali disposta a um reencontro, e vê em si mesmo todo o ressentimento, todo o ranço das mais diversas experiências incompreendidas. Num esforço profundo, ele novamente se ergue. Tenta tocar em um desses espelhos, e diferente da situação das esferas, ele é transportado para uma lembrança remota. Contudo, não permanece por muito tempo. Era uma lembrança de uma perda muito forte, do passado. O Ser não fazia pensar. Não podia. Algo, uma força superior a sua vontade, não o permitia pensar. E sua fraqueza era capaz de transpor essa mesma vontade. Ele, então, assistia de fora – como quem vê um filme de sua própria existência -, calado. Sentia seu coração pulsar tão fortemente e apertar o seu peito, criando a sensação de arrependimento ainda mais forte. Lágrimas caíam. Não sabia como reagir de outra maneira. De repente, retorna a primeira realidade. Chão úmido.  Escuridão. Espelhos. Parecia que tudo aquilo que ele nunca quis enxergar, que sempre escondeu de si mesmo, estava ali, retratado naqueles espelhos. Falhas, medos, inseguranças: no mais profundo de si mesmo.

Como que por encanto ou necessidade, o Ser toma uma centelha de raciocínio. Seu corpo começa, lentamente, a tomar uma força. E ele logo pensa, falando em voz alta:
- Se nada disso posso mudar, o que estou fazendo nesse lugar!?
Um intenso silêncio toma conta do espaço. Não há eco. Mesmo assim, ele prossegue:
- Se devo agir no meu melhor, pra que serve ver o pior? Teria que ver o melhor de mim mesmo! Ai sim, terei chances de seguir um caminho mais claro... Certo!?
O silêncio era o som que se ouvia, o cheiro, a visão. Nada mais. Aquilo começou a atormentar o Ser, que se viu isolado e sentiu a solidão lhe fincar a alma feito faca bem afiada atravessando o peito. Com todas essas sensações aumentando, ampliando, ele continuou. Com uma voz um pouco mais fraca:
- Será que alguém pode surgir e me explicar? Eu não estou conseguindo entender! Todos esses espelhos são de um passado que eu não quero ver, não quero admitir, e isso eu já entendi. Será que preciso aceitar tudo isso e trabalhar essas dores? De que maneira essas dores serão benéficas? COMO CURAR AS PRÓPRIAS FERIDAS QUANDO SE ESTÁ MACHUCADO?

O Ser começou a perceber que a umidade do solo começava a aumentar na medida em que ele questionava. Sentia, simultaneamente, que seu corpo ia ficando fraco, suas pernas perdiam lentamente as forças e sua mente ia perdendo a noção do que estava acontecendo. A água estava subindo, alagando todo o lugar, os espelhos. Uma água clara, limpa e brilhante. O Ser, sem ânimo nenhum, simplesmente se deixou levar pelas águas. E boiou. Não sentia mais seu corpo, somente uma sensação de inquietude tão profunda, que foi se perdendo, na perda dos sentidos. Não havia céu com gaivotas, ou chuva: era uma escuridão completa imersa em uma água cristalina, e nada mais. Até aquele instante. Seu corpo foi sendo carregado pelas águas, até que alguém lhe pegou pela mão. O Ser, nesse momento, já não mais sentia nada. Não se deu conta de que estava sendo puxado para um lugar que não estivesse alagado. E assim se deu.

Após um indefinido tempo, o Ser abre os olhos. Agora, sente uma terra mais seca. Tateou o seu corpo e sentiu que não havia mais a dormência anterior. Notou uma luz cintilante banhando todo o local, até onde seus olhos podiam ver naquela posição. Ele somente movimentava a cabeça, observando tudo ao seu redor. Um mundo novo, estranho, diferente e interessante. Levantou-se com uma facilidade estonteante. Parecia reanimado e feliz. (...)

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. As águas fazendo sempre o seu grande papel deste o início de nossa existência. Em nossa dimensão tudo para nós, os seres miúdos, é tudo tão limitado, que acabamos esperando pelo real ao que os nossos olhos podem enxergam, ao que a mão consegue tocar. Quando permitimos aceitação da energia, do que apenas toca a pele como brisa e que deixamos a luz entrar, parece que a centelha divina preenche e acolhe, e educa, e tudo faz sentido: A água lava e escorre, o vento leva, o sol derrete e envolve, a terra se equipa de tinta e pincel desenhando a trilha.
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    1. Muito bacana, Zel! Concordo contigo. A Fé é uma prova de que podemos sim acreditar em algo que ainda não é palpável!! E existe, e está lá!

      Bjo grande e obrigada pelo comentário!

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